O jogador Cristiano Ronaldo foi eleito nesta segunda-feira, 12, o melhor jogador do mundo. É a terceira Bola de Ouro que o jogador leva, mas o que poucas pessoas sabem é que a primeira vitória de CR7 foi no ventre de sua mãe. Dona Maria Dolores revelou em uma comovente entrevista que tentou abortar o filho, mas o médico não deixou ela cometer este crime.
A versão do texto traduzida foi retirada do Blog AloBrandalise.
Nervosa e com medo, Maria Dolores sabia que o dia havia chegado. Tinha que falar com o médico e pedir para acabar com a gravidez. Era sua quarta gestação e o que mais a preocupava eram as dificuldades que iria trazer para sua casa. Considerando o pedido da mãe aflita, as palavras do médico não poderiam haver sido mais lacônicas.
-De jeito nenhum! Você tem apenas 30 anos e nenhuma razão física para não ter este bebê. Já verá como será a alegria da casa!
Dolores começou a chorar: não podia acreditar que não tinha a cumplicidade do médico para a interrupção. Pior ainda foi o comentário sobre a alegria que o bebê traria quando ela não sabia como alimentaria ele quando nascesse. Ela voltou para casa derrotada pelo medo do futuro. Não estava convencida de que o bebê deveria nascer. Que tipo de vida o esperava?
Em uma conversa com uma das filhas da madrasta, sua vizinha, que estava ciente das dificuldades que Dolores e sua família viviam,ela recomendou uma receita caseira para quem quer evitar que o embrião continue o termo dentro do útero materno. A solução era muito simples, talvez simples demais. Tudo o que a mulher grávida tinha que fazer era ferver uma cerveja escura, beber e, uma vez ingerido até o último gole do líquido quente, correr até que sentir que seu corpo realizava um grande esforço. Passado um par de horas, a reação seria espontânea, e o que os médicos não queriam aconteceria com a velocidade de um piscar de olhos. O embrião sairia do ventre daquela que nunca seria sua mãe.
Dolores, com seu desespero nascido do medo, seguiu as instruções. Depois de duas horas…Nada! Desconfiada pôs a mão no abdômen, aguardando notícias, e não viu nenhum sinal. A paz reinava em seu corpo. O embrião parecia estar em um sono tranquilo e profundo, não querendo sair antes do previsto.
Com a mão no ventre, poucas horas depois da tentativa de aborto, Maria Dolores tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre, mesmo que no momento não estava consciente de sua importância.
– Se a vontade de Deus é que esta criança nasça, que assim seja!
A fé e o instinto maternal Dolores falaram mais alto. Seguiria o plano de Deus e deixaria que aquele embrião completasse seu curso. A convicção que levou Dolores a aceitar o bebê que vinha era forte, tão forte quanto a realidade ao seu redor. Por mais que trabalhasse muitas horas, não conseguia dar aos seus filhos o que eles precisavam. Tudo o que ela queria era que eles estudassem, mas a verdade é que o caminho que pisavam os levaria mais cedo ou mais tarde a deixar a escola e a ir trabalhar para ajudar no sustento da casa.
Em uma das verificações de rotina, Dolores soube que teria um filho, então teria dois casais. O médico insistia que o novo pequeno seria a alegria da casa, mas Dolores sentia que o mundo desabava em cima dela. Ainda bem que ela podia contar com o carinho que as irmãs tinham por ela e as suas crianças.
O ventre crescia, dando garantias de que o bebê nasceria. Nada o impediria. Ele queria nascer e esperava ser bem recebido.
MOMENTO FELIZ
Apesar de em sua carteira de identidade constar apenas 30 anos, a vida lhe tinha atribuído uma condição de mulher mais ‘velha’, com mais experiência do que outras mulheres da mesma idade. Aquele seria seu quarto parto e estava preparada, porém, ainda assim, o nascimento de um bebê sempre traz a dor dos partos anteriores e nunca se sabe como terminará.
Dolores sabia que havia chegado o momento que tanto temia e que, ao mesmo tempo, tanto desejava. Durante os meses de gravidez, como esperado, criou amor por aquele que a havia usurpado o ventre. Era hora de abraçá-lo, dizer-lhe que o amava, que o amava tanto quanto os seus irmãos e que lhe perdoava por vir fora do tempo, ainda que viesse a tempo de ser muito amado por todos.
Os segundos se atropelavam no relógio, com a agitação da própria ocasião. A respiração ofegante de Dolores dava claras indicações de que poderia acontecer a qualquer momento. A dor aumentava a cada suspiro. O nervosismo também. As dúvidas insistiam em aparecer no pior momento: Nasceria perfeito? Nasceria saudável? Nasceria…?
Uma vez mais lhe atormentavam os terríveis porquês, o inevitável sentimento de culpa ao reviver os fantasmas de uma vida difícil e de um futuro incerto, que com um novo membro na família só piorariam.
Gritando e chorando, o bebê deixou o berço natural do ventre da mãe e chegou, graças às mãos do médico, aos seus braços. Entre sangue e lágrimas, mãe e filho se olham pela primeira vez. Confirmou-se: era uma criança com voz de quem acabou de chegar… mas que já tem algo a dizer.
O médico, para suavizar a tensão do momento, disse uma frase que ficou para sempre na memória de Dolores:
– Com pés como estes, será um jogador de futebol!
Na sala de espera, aguardavam o pai nervoso e três crianças ansiosas para ver o bebê que esperaram por tantos meses. Logo perceberam que o recém-chegado dominaria a casa humilde da família, do clã Aveiro, já completa. Dois adultos e quatro crianças dividiam o mesmo teto, unidos pelo amor que não faz distinção entre as famílias ricas ou as pobres. Naquela casa não havia ouro, mas prevaleciam o carinho e o amor. Orgulhosa, Dolores via que sua família se amava.
Faltava escolher o nome do membro recém-chegado. Dolores tinha uma profunda estima por um homem que era um ator e que, naquela época, presidia os Estados Unidos: Ronald Reagan. Com a vontade de quem deseja uma vida de sonho para o filho, decidiu que o pequeno seria batizado como Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro.
Em uma das consultas de rotina de Dolores com o bebê, o médico que viu a mãe abatida pelas dificuldades de manter uma casa cheia de crianças e limitada nos meios de subsistência, tentou motivar a pobre mãe jogando uma previsão quase que em tom de profético:
– Alegra-te, mulher, este bebê vai te dar muita sorte na vida e muita felicidade!
Maria Dolores não percebia a sorte, só sabia que a cada dia que passava, estava mais desesperada. De qualquer forma, parecia que, de fato, o bebê havia trazido uma certa alegria para a casa. O primeiro sorriso, a primeira gargalhada, os primeiros passos vacilantes. Todos os movimentos do novo “reizinho” da família Aveiro foram recebidos com grande entusiasmo por seus irmãos mais velhos. Cristiano cresceu em um ambiente de amor.
Elma, Hugo e Katia ocupavam o papel de mãe, pois esta estava sempre ocupada em trazer comida para a mesa. Dinis agora mostrava um lado mais humano, determinado pelo grande amor que tinha por seus filhos, dando algum ânimo para Maria Dolores. De certa forma, ela estava aliviada em ver que, ainda que Dinis não fosse marido com quem tinha sempre sonhado, pelo menos era um pai carinhoso e nunca maltrataria os filhos! Isso era o mais importante.
Quanto à sua felicidade como uma mulher casada, não tinha muito o que fazer a respeito. Os anos que passou de costas a seu marido levou o casamento ao fracasso. Dinis e Dolores estavam cada vez mais distantes um do outro; o que os unia era apenas o amor pelos filhos. Mantinham o respeito mútuo, mas não muito mais que isso. O divórcio nunca foi uma opção, porque havia um medo enorme das crenças e da opinião de seu pai, José. Dolores sabia que, com o anúncio de uma eventual separação, teria que esperar, muito provavelmente, a antiga corrente contra a qual lutou tantas vezes. O fantasma da autoridade do pai ainda perdurava, apesar de Dolores já ter mais de 30 anos e ser mãe de quatro filhos. Ela conhecia bem a velha frase do pai:
-Quem boa cama faz, nela se deita.
Dolores decidiu compartilhar a vida com o homem que lhe dera esses quatro filhos maravilhosos. Ela viveria para eles, o respeitaria por eles. Nada mais do que isso.
Publicado originalmente em: LA RAZÓN.ES